Intervenção da vereadora Ana Bastos na Reunião de Câmara de 22 de junho de 2020
A central de camionagem sita na Fernão da Magalhães, sob a gestão da Transdev, representa um dos principais portões de entrada na cidade de Coimbra, para estudantes, visitantes e turistas, mas que a todos nos envergonha pela falta de condições mínimas de espera em conforto. A exiguidade do espaço e a consolidação do espaço envolvente não lhe conferem capacidade de ampliação ou de interligação com outros serviços de transporte, pelo que é absolutamente premente criar uma infraestrutura pública que sirva de Centro Intermodal de Transportes.
Este problema é reconhecido por todos os quadrantes políticos e Conimbricenses em geral, mas a verdade é que, década após década, o problema perdura e agrava-se no tempo, sem que nada tenha sido feito.
Não é compreensível que cidades como Viseu consigam transformar a velha central municipal de camionagem num centro de Mobilidade e de Transportes [ver imagens no final do texto], associado às mais recentes tecnologias, investindo 4,5 milhões de euros, cofinanciada em 85% pelo PEDU (Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano) e que Coimbra, que responde a um conjunto alargado de interligações interurbanas e serviço expresso, se continue a condicionar aos interesses e exigências dos privados, sem que a construção de uma infraestrutura pública que defenda o interesse público e social, algum dia tenha sido elegida como essencial e prioritária para a cidade. A definição de paragens para o serviço expresso da FlixBus Portugal, Lda., e que vem hoje para aprovação deste executivo, é o espelho desta deficiência.
Por isso importa olhar para o futuro com esperança, mas sobretudo com muita ambição, tirando partido de estudos e instrumentos de planeamento já existentes. É certo e incontornável que Coimbra precisa de um Centro Intermodal de Transportes, pelo que o Somos Coimbra propõe que a Câmara Municipal de Coimbra, independentemente dos ciclos eleitorais, eleja esta proposta como a obra prioritária para os próximos dois anos.
As oportunidades estão aí, basta saber aproveitá-las!
A fase pós-pandemia tem vindo a reforçar a necessidade de aposta nos transportes públicos e nos modos ativos, tendo, na passada quarta-feira, a Assembleia da República aprovado quatro projetos de resolução, apresentados por PAN, PEV, PSD e PS, que recomendam ao Governo a criação de incentivos ao uso de transportes sustentáveis. Se o Portugal 2020 já previa incentivos avultados para a promoção e descarbonização nos transportes, é expectável que os programas que estão a ser desenhados para o Portugal 2030, venham a reforçar ainda mais esse setor. Deve por isso Coimbra trabalhar afincadamente, para dispor urgentemente de projetos amadurecidos e irrefutáveis e assim se posicionar na linha da frente na angariação desses financiamentos.
Esta interface, entre outras funções, deve responder às necessidades de operação dos diferentes serviços e operadores de transportes públicos rodoviários, designadamente intermunicipais, inter-regionais, expresso e internacionais, mas também às funções de toque por parte dos serviços urbanos dos SMTUC garantindo o transbordo entre serviços em condições de conforto, segurança e de acesso universal. Complementarmente a intermodalidade, deverá ser alargada a todos os restantes serviços essenciais de transporte, como o serviço ferroviário, Metrobus, táxis, modos ativos, sistemas de bike-saring, car sharing e rent a car. Igualmente relevante será associar este interface a parques de estacionamento periféricos de grande capacidade que garantam a intermodalidade, seja com o comboio e transportes urbanos, seja ainda com o futuro serviço da ECOVIA, que apesar de prometido e diversas vezes anunciado, tarda em ser concretizado.
Mas importa igualmente que esta infraestrutura proporcione a criação de um centro de controlo do tráfego, sistemas de comunicação e disponibilização de informação, em tempo real, e uma plataforma integradora de vários prestadores de serviços de transporte e de uma rede de infraestruturas e de equipamentos, que potencie a oferta de um conjunto diversificado e flexível de soluções de mobilidade e de serviços, que vão ao encontro das necessidades dos utilizadores, numa ótica de MaaS (Mobility as a Service).
Atendendo a todo este conjunto de condicionantes e exigências, apenas os terrenos adjacentes à estação velha, reúnem os requisitos indispensáveis à criação de uma infraestrutura desta natureza, cuja integração paisagística e funcional já tinha sido devidamente estudada e detalhada no âmbito do Plano de Urbanização da Entrada Poente e Nova Estação Central de Coimbra, desenvolvido pelo arquiteto Joan Busquets e que convidamos o Sr. Presidente a revisitar. Se o plano nunca chegou a ser publicado, desafia-se aqui o Sr Presidente a promover a sua formalização e concretização, potenciando a afirmação da zona norte como uma nova centralidade urbana, a qualificação daqueles espaços e a criação de um sistema de transportes urbano estruturado e eficaz. Só assim Coimbra pode atingir pacotes de financiamento absolutamente essenciais para a transformação e valorização da cidade, já que a maturidade e a oportunidade dos projetos, são chave decisiva ao seu financiamento.
Não podemos continuar a espalhar, numa ótica do “desenrasca”, as paragens de transportes sob a jurisdição da CIM-RC ou do próprio Governo, em diferentes sítios da cidade, sem condições de espera, sem acesso a bilheteiras e a serviços básicos. Não é assim que Coimbra quer continuar a receber a sua gente, visitantes e turistas. Uma cidade que se quer inteligente e preparada para enfrentar os desafios da mobilidade do sec. XXI tem necessariamente de integrar as suas ações numa visão estratégica para os transportes da cidade, numa clara aposta na descarbonização, na requalificação dos espaços públicos urbanos e numa gestão centralizada, integrada e em tempo real.
Esta é uma causa que nos deve unir, em prol do serviço público de transporte de passageiros, pelo que fica o desafio: vamos defender e trabalhar conjuntamente para a construção do futuro Centro Intermodal de Transportes de Coimbra!
Projeto do Centro de Operações de Mobilidade de Viseu
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