Fotografia: Adriano Miranda/Público
Intervenção da vereadora Ana Bastos na Reunião de Câmara de 13/01/2020
No final de 2018, as Infraestruturas de Portugal com a concordância da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) decidiram que a requalificação da estação de Coimbra-B iria avançar conjuntamente com a empreitada do terminal de Metrobus “numa lógica de racionalização de recursos”.
Relembre-se que a remodelação de Coimbra-B estava inicialmente inserida na empreitada da modernização da Linha do Norte, com início da obra programado para o último trimestre de 2019. O atraso imposto, de mais de 1 ano, a uma obra essencial e prioritária para Coimbra, era segundo o anterior Ministro Pedro Marques justificado como forma de “melhorar significativamente a acessibilidade à estação ferroviária e dotar a cidade de Coimbra de um Interface Intermodal devidamente estruturado entre os vários meios de transporte público”.
O estudo prévio do terminal do Metrobus foi submetido à aprovação deste executivo em reunião de 25/3/2019 e apresentado publicamente no âmbito das atividades da Semana Europeia da Mobilidade. Nessa altura foram vários os receios e preocupações levantados pelo SC, mas que continuam sem resposta. Ao nível técnico, admitia-se que as maiores dificuldades eram centradas na definição de um layout, que permitisse coordenar os vários serviços disponibilizados na estação e assim garantir a tão propagandeada, mas indispensável, intermodalidade.
Sabe-se agora que o projecto se encontra finalizado, pelo que perguntamos quando é que esse estudo será apresentado a este executivo? Será essa a estação que Coimbra precisa e merece? Ou, tal como sempre receamos, o projecto não passa de duas rotundas “encavalitadas” com impactes ambientais significativos resultantes da canalização da ribeira e do enorme volume de terra escavado?
Está finalmente garantida a construção da passagem inferior para peões e as escadas rolantes, ou teremos de continuar a atravessar as linhas à superfície e a fugir aos comboios para mudar de cais? O que se perspetiva para a passagem inferior rodoviária junto a Coimbra-B? Terão os operadores de continuar a desviar as carreiras pela Adémia, ou vai ser finalmente ultrapassado o problema do pé direito?
Onde serão localizados os diferentes serviços alternativos de fomento à intermodalidade? Táxis, trotinetas, bicicletas?
Qual o plano de expansão dos parques de estacionamento? Importa ter noção que o parque atual já apresenta taxas de ocupação de cerca de 90%, sem reserva de capacidade para responder aos futuros serviços de P&R (Ecovia). Esta é igualmente a localização estratégica para responder a um serviço especifico de P&R para acesso aos CHUC/IPO. Esse serviço está a ser previsto?
Quando poderemos substituir a vergonhosa estação de camionagem, há décadas aspirada pela população e que em nada dignifica a cidade e as suas gentes? Quem será responsável pela sua construção? As IP já informaram que tal projecto extravasa o domínio de atuação daquela empresa. Quantos anos mais vamos continuar a submeter munícipes, visitantes e turistas àquelas condições de espera?
Tendo recentemente o Sr. Presidente assumido que o Plano de Urbanização da Entrada Poente e Nova estação Central de Coimbra não chegou a ser publicado em DR e não havendo pretensões deste executivo fomentar a sua publicação, perguntamos que instrumento de planeamento e gestão territorial está a nortear o desenvolvimento urbanístico da zona envolvente a Coimbra-B? Qual a coerência do conjunto das intervenções previstas? Para quanto o anel à Pedrulha e a sua ligação à N111?
Numa fase em que volta a estar em cima da mesa o projecto da alta velocidade e o Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, já veio defender uma ligação ferroviária em 1h15m entre Lisboa e o Porto e uma ligação rápida a Madrid, como é que Coimbra pensa voltar a entrar nessa corrida?
É importante reter que o plano de urbanização ignorado e abandonado por este executivo, era efetivamente ambicioso e foi promovido para viabilizar a implantação de verdadeira estação intermodal, capaz de receber a Alta Velocidade, os comboios convencionais e o metro ligeiro. Ao mesmo tempo, criava-se uma nova centralidade na zona norte, potenciando a revitalização de uma área degradada, através do seu desenvolvimento económico, paisagístico e urbanístico. Com o seu abandono e sobretudo, depois desta Câmara ter regredido e aceite umas “migalhitas” ao manter a atual estação na mesma posição, inviabiliza-se a conjugação de todas as funcionalidades indispensáveis ao fomento da intermodalidade. Com base em que plano é que Coimbra vai defender que a paragem do TGV deve ser em Coimbra ao invés de Aveiro?
Recorrendo às palavras do Ministro “nas discussões sobre grandes investimentos públicos em Portugal têm-se cometido diversos erros que impedem o país de se desenvolver.” Lamentavelmente, quando olhamos para Coimbra, a este nível, a cidade está na linha da frente…
Mas com o encerramento do serviço ferroviário entre Coimbra B e Coimbra Cidade, prevista para o final de 2020, reforça-se a relevância em garantir o fácil transbordo dos serviços suburbanos e regionais para o Metrobus. Entre outras, as populações de Figueira da Foz, Alfarelos, Aveiro, Pampilhosa, Pombal, usam diariamente esta ligação ferroviária para chegarem diretamente ao centro da cidade. Estará esse transbordo a ser garantido de forma directa, inclusiva, confortável e protegido das intempéries? Ou vamos penalizar estas populações, convidando-as a abandonar o comboio e adquirir viatura própria?
O que é que Coimbra pode esperar da frente ribeirinha? Quando forem reforçados os muros da margem direita, que plano norteará o desenvolvimento e vivificação daquela margem para evitar a pressão e especulação imobiliária? A ORU da Coimbra Rio? Será um espaço eminentemente de cultura e lazer onde dominam os modos suaves, ou estes terão de continuar a competir com o veículo individual? Para quando esta discussão?
Depois de mais de 2 anos deste executivo, estes são alguns dos grandes desafios que se colocam na atualidade à nossa cidade, que carecem de reflexão, estratégia e sobretudo de respostas. Coimbra tem mesmo de mudar!
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