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O crescimento da cidade - parte II



Daniela Gonçalves #somoscoimbra

Muitas cidades cresceram mal, permeáveis a fenómenos de moda e a um conceito de organização urbana centrado mais no consumo do que no conforto e na qualidade de vida das pessoas, mais numa ideia tecnocrata e menos numa ideia criativa.

Os centros foram abandonados, as zonas sub-urbanas encheram-se de prédios e os meios envolventes de centros comerciais.

As vilas e aldeias desligaram-se dos grandes centros. Os bairros “morreram” e aquela cultura própria, pequena, “cosy” que aproxima as pessoas desapareceu.

Eu nasci e cresci num bairro. Lembro-me perfeitamente da minha escola, de ir a pé para todo o lado, dos amigos que ainda hoje mantenho.

A vida mudou dir-se-á com toda a razão. Mas a mudança desgovernada sem nenhum respeito pelo que, no passado se fez de bom, pode ser tão perigosa como a mesmidade dos dias. Alguém me disse uma vez que “o que é bom merece ser conservado”.

É hoje pacífico que o conceito de organização de cidade que em Portugal se foi adotando, em boa parte trazido pelo crescimento económico e apelo ao consumo, não serve.

Coimbra não foi exceção, abandonado o centro urbano, a “cultura de bairro” deu lugar às grandes urbanizações e os centros comerciais passaram a ser os novos jardins. A culpa tem sido de todos e de ninguém. Algum comércio tradicional fechou-se a qualquer mudança.

Recusou-se a evoluir, a oferecer novos horários de serviço, novos produtos, novas atividades. Porque, se calhar as pessoas até fazem as compras à hora de almoço, ou ao fim do dia (e hoje o fim do dia não é, muitas vezes às 19h), se calhar até preferem almoçar num restaurante “simpático”, pequeno e “saudável” em vez de na tasca habitual, onde a ementa é a mesma de há 10 anos, se calhar até compram artesanato bonito, de jovens criadores, ou de tradição antiga, a preço moderado. Se calhar até gostam de ouvir gente nova a tocar e a cantar na rua, de tomar café e comer uma queijada numa explanada limpa, de beber um bom vinho e acompanhar com uns queijos. Ou, se calhar chegam a casa e é bom saber que, no seu bairro, ainda podem ir à mercearia que está aberta, ou ao restaurante comer uma sopa, ou ao café sentir o verão.

É verdade que os centros comerciais são uma concorrência terrível e desmotivadora a que cada muita gestão autárquica fecha os olhos. Não devem, talvez, confundir-se realidades distintas. Os centros das cidades devem ser outro espaço onde se vive de outro modo, onde as pessoas procuram outros produtos, outras atividades, outros momentos de lazer. Nem melhores nem piores, diferentes.


Hoje percebemos que é importante um ponto de equilíbrio, a meio caminho entre as aspirações de uns e de outros. Qualquer acordo é uma parte de cada um, plasmada numa zona comum, criada de novo. Devia ser. Uma Autarquia pode, e deve ter este papel agregador e agilizador. Deve abrir o caminho, incentivar e modificar. Porque nada surge apenas por decreto, mas, se as pessoas se sentirem envolvidas e parte de um plano tudo pode ser mais fácil.

A nossa cidade precisa de uma dinâmica e de uma alma nova, únicas, capazes de atrair gente criativa e gerar negócio, de atrair talento, de oferecer alternativas, de motivar a escolha para viver. E isto é a chave de tudo. Quanto mais pessoas escolherem Coimbra para viver, trabalhar passar férias, mais Coimbra crescerá. Como diz Richard Florida, pensador da ideia de cidades criativas: “É a vibração própria que faz uma comunidade ser única.”

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