Intervenção inicial da deputada Lúcia Santos Ferraz, na Assembleia Municipal de 29 de julho de 2021
Cartoon da autoria do Movimento Humor
Esta é, provavelmente, a última, ou penúltima, reunião desta Assembleia Municipal, e impõe-se fazer aqui um breve balanço do reflexo que estes 4 anos tiveram em Coimbra.
Infelizmente, pouco há a dizer de positivo.
O que agora se diz é o mesmo que se poderia ter dito há 4 anos. Coimbra está estagnada. Os anos passam e nada de verdadeiramente significativo acontece ou muda na cidade. E o que nos dizem os indicadores é que, aquilo que muda, é para pior.
Desde logo, no período 2001 a 2021, Coimbra perdeu cerca de 5% da população, contando atualmente com 140796 residentes, sendo hoje apenas o 16º concelho do país. No período 2011-2021, Coimbra perdeu 2600 residentes (-1,8%). No mesmo período Portugal sofreu uma descida de 2% da população. Braga cresceu 6,5%, Aveiro cresceu 3,1%, Leiria cresceu 1,4%, Faro cresceu 3,9%, Setúbal cresceu 2,1%. São enormes as disparidades, que confirmam o declínio relativo e absoluto de Coimbra.
Coimbra é uma cidade cada vez mais envelhecida, com um índice de envelhecimento, em 2020, de 206,5, longe da média nacional que se situa nos 167. O que não se estranha, já que Coimbra perdeu 50% dos jovens entre os 25 e os 29 anos. É, aliás, o 2º pior concelho do país na perda de jovens residentes dos 25 aos 29 anos, por falta de emprego e de oportunidades. O emprego disponível em Coimbra reduziu em 7%, em claro contraste ao crescimento de 13% no Continente, de 7% na Região Centro e de 8% nos concelhos limítrofes de Coimbra.
No Ranking Global dos municípios de grande dimensão, quanto aos municípios com melhor eficiência financeira comparativa, Coimbra tem vindo a decair, 11º em 2017, 17º em 2018, 18º em 2019, evidenciando inequivocamente a má gestão do município.
E muito mais haveria a dizer!
E não, não se trata de maledicência! A fotografia não é nossa; são dados oficiais da PORDATA (INE) e do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses.
Coimbra tem todos os ingredientes para se tornar no motor de desenvolvimento da região centro, mas na cozinha não se sabe o que fazer aos ovos, à manteiga e à farinha! Não há receita! Falta estratégia, falta visão política e falta ambição! Continuamos sentados no sofá, com a mantinha sobre as pernas, a ver a banda passar.
Um fraco rei faz fraca a forte gente... dizia o nosso grande Camões n’ Os Lusíadas.
Sem pretendermos ser demasiado exaustivos, citemos apenas alguns exemplos daquilo que tem vindo a demonstrar à saciedade a inépcia e incompetência deste governo socialista.
Comecemos pelo claro divórcio da cidade com o rio. Anunciam agora, com estrondo, uma nova relação de harmonia entre a cidade e o rio Mondego como uma das fortes apostas para o próximo mandato, quando, durante os últimos 8 anos, não moveram uma palha nesse sentido. A intervenção, se assim a podemos chamar, limitou-se à destruição de uma parte da galeria ripícola que protegia as suas margens, levando a que, em poucos anos, o mesmo tenha que ser desassoreado. Plantaram-se, aqui e ali, umas ciclovias, descontinuas e inseguras que, apesar de importantes, sabem a pouco.
Não podemos deixar de citar, também, a postura da Câmara relativamente à Maternidade e ao Hospital dos Covões. Durante os últimos 4 anos, o executivo mais não fez do que inviabilizar o avanço do projeto no CHUC, permitindo o desmantelamento progressivo e a desvalorização do hospital dos Covões.
Falemos agora daquele que é, provavelmente, o projeto mais importante da próxima década; a paragem de alta velocidade. Ao avançarem com o projeto da estação B, incompatível com a passagem do comboio a alta velocidade, estamos a empurrar Coimbra para fora da rota de desenvolvimento da linha de alta velocidade, e, mais uma vez, o PS prepara-se para deixar Coimbra a ver os comboios passar…
Por fim, numa altura em que estamos fortemente empenhados na descentralização, e sendo o Presidente da Câmara de Coimbra igualmente Presidente da ANMP, deveria dar o exemplo, impulsionando e promovendo a descentralização de competências para as suas freguesias. Ao invés disso, e para além de nunca se ter definido uma estratégia para as freguesias, a Câmara tem-se empenhado em asfixiá-las, cortando e atrasando as verbas que lhes são devidas.
Para evoluir, desenvolver-se e sair deste anacronismo atávico, Coimbra tem de criar emprego e fixar os jovens, atrair investimento e novas empresas para a cidade e para a região; atrair investimento, de maior envergadura, de fora da cidade, porque o tecido empresarial da cidade perdeu muita da sua vitalidade e músculo financeiro. Coimbra tem boa qualidade de vida, tem uma excelente base de recrutamento de jovens qualificados, tem bons centros de I&D e bons serviços. Mas falta a capacidade do poder político, concretamente aliando-se a empresas e à Universidade para, em conjunto, definirem uma estratégia e um plano de ação consistente e de longo prazo.
Coimbra não oferece nenhum atrativo aos empreendedores, para as pessoas que verdadeiramente transformam e fazem coisas acontecer. Torna-se fundamental recuperar Coimbra como a cidade líder nas áreas da Inovação e do Conhecimento, através da promoção de estratégias e de políticas de angariação e retenção do talento.
O percurso de Coimbra, à volta do conceito e da tradição das grandes cidades universitárias, também se perdeu com o tempo, deslocando o conceito da cidade para uma evolução focada exclusivamente em clusters como o da saúde ou das TIC. A saúde é uma das áreas com maior potencial em Coimbra, mas não pode ser a única área de especialização, pois seria insuficiente em termos económicos e representaria um desperdício do conhecimento de ponta existente noutras áreas.
Mas, lamentavelmente, até a inovação na área da saúde e das TIC, não encontraram em Coimbra terreno fértil para crescer, e foram absorvidas por outras cidades e regiões que conseguiram seduzir alguns dos talentos aqui formados. Nomeadamente o Porto (cluster da saúde) e o eixo Braga/Guimarães (cluster TIC).
Numa cidade onde o conhecimento é o fator predominante, e apesar da vida académica viva, onde é que para a efervescência cultural que vemos noutros centros mundiais do saber, como Bolonha, Barcelona ou Salamanca? Onde estão as manifestações culturais de vanguarda, disruptivas, as mostras internacionais de música, teatro, dança e artes plásticas, que possam trazer a esta cidade pessoas de todo o país? Nem só de artes mágicas se faz a cultura!
Coimbra tem vindo, progressivamente e de forma acentuada, a perder a importância que já teve no contexto nacional. Deixou de ser a (quase única) cidade produtora de conhecimento no país, e não soube (ainda) encontrar outro caminho para se desenvolver. Coimbra vive demasiado de glórias passadas, não cuida do presente e não constrói o futuro.
É urgente encontrar um novo paradigma para esta cidade, assente num modelo gerador de riqueza, que fixe e atraia jovens especializados, em volta de um projecto que a todos una.
Para além da evidente falta de visão e de estratégia, ao Governo do PS que tem gerido os destinos da cidade nos últimos anos, falta claramente assumir e incorporar aquilo que são verdadeiramente os valores da democracia e da transparência na gestão autárquica.
É uma Câmara para quem escutar as críticas da oposição exige paciência de chinês. Uma maçada!
É uma Câmara que, perante as inúmeras propostas políticas apresentadas pela oposição, mais não lhe ocorre do que apelidar o candidato opositor de Frankenstein. É pouco, meus Senhores… Coimbra merece mais do que isto.
E tem absoluta razão o Vice-Presidente da CMC quando refere que “a política se faz de projectos políticos e de uma paixão inabalável pela Cidade de Coimbra”. Projeto político para a cidade nós temos, o do PS desconhecemos… Paixão inabalável pela Cidade também temos; a diferença é que a nossa paixão não é meramente platónica! A nossa paixão pretende ser consumada e criar vida no município.
Coimbra merece um novo rumo!
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